domingo, 3 de julho de 2016

Big Pharma - Uma indústria perversa?


Joguei esse aqui e (eita!) parece trabalho. Fiquei cansadinha. Neste jogo você administra um laboratório farmacêutico e o seu objetivo é um determinado lucro em um determinado espaço de tempo (vai dizer que achou que o objetivo era salvar vidas? Sabe de nada, inocente!).
Você começa montando a planta da sua fábrica. Importa uns poucos ingredientes mixurucas que já estão disponíveis e já começa a vender suas cápsulas. 


De repente começam a aparecer eventos mundiais que demandam novos medicamentos. Aí vem um aviso que um competidor já está lançando coisa na sua frente. Tem que correr para contratar pesquisadores (tipo Indiana Jones) mara entrar no mato (só podia ser nos trópicos, né?) para "descobrir" novas substâncias. Tem que contratar engenheiro para desenvolver novos equipamentos para chegar aos produtos aprimorados. Para criar o novo princípio ativo que o mercado está demandando tem que usar uma catalizador. Mas como faz isso mesmo? Ah! Tem que mandar o Indiana Jones para descobrir um catalizador no meio do mato. Ih caramba! Um competidor já lançou outro produto concorrente. Eita! Se tiver efeito colateral chato no meu produto o pessoal vai preferir comprar o da concorrência! Com qual máquina mesmo eu faço isso? Tem que diminuir a concentração!
Muitas emoções.
Sentimos na pele a correria do mercado, mas a saúde de verdade fica esquecida. Não se pensa em equidade em saúde. Não é à toa que Big Pharma é também o nome de uma teoria conspiratória que aponta que a indústria farmacêutica quer mais é que a humanidade se exploda, desde que tenha lucro.
Deixo aqui um link sobre o assunto: https://en.wikipedia.org/wiki/Big_Pharma_conspiracy_theory
Pois é... senti falta de além de ter exploradores e engenheiros, ter também um 007 para espionar o meu concorrente...

sexta-feira, 25 de março de 2016

Privates - um jogo "de verdade" sobre DSTs


Ah gente, baixem e joguem este daqui. É muito bom! Foi feito para um canal de TV no Reino Unido que já abandonou o projeto, mas felizmente a tecnologia está para compartilharmos coisas também: http://www.baixaki.com.br/download/privates.htm

Usei este jogo para fazer análise comparativa com o do post anterior: http://saudeemgames.blogspot.com.br/2016/03/adventures-in-sex-city-uma-unidade-de.html

Diferente do anterior, este é um jogo muito bom de se jogar. Afinal, foi feito por um estúdio de desenvolvimento de jogos de entretenimento por encomenda de um canal de TV. O trailer é bem honesto, feito com cenas do próprio jogo:


Já viram, né? É a história de uma tropa de criaturinhas que invade as partes íntimas das pessoas para lutar contra uma multidão de monstrinhos que representam as DSTs. O jogo é cheio de metáforas e piadas engraçadas, mas... nada é perfeito quando se envereda na Comunicação e Saúde... Os probleminhas estão nos sentidos da saúde que este jogo reforça. Além da questionável metáfora bélica (muito comum em campanhas de saúde), nele a pessoa que tem DST é somente um objeto inerte, sem escolhas, sem protagonismo. O jogo é voltado para um público de mais de 14 anos e as mensagens são direcionadas a pessoas que nunca tiveram uma DST, pois se baseiam em "Esta doença existe e você vai se arrepender se pegar. Sinta medo dela!". Se eu fosse portadora de uma dessas doenças ia me sentir humilhada quando o jogo falasse dela.
Mas, apesar de tudo, este jogo vale a pena. Apesar de ser bem grandinha, me diverti horrores jogando e ainda aprendi algumas coisas. Sério, a gente pensa que sabe de tudo mas tem sempre alguma coisa para aprender.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Adventures in Sex City - uma unidade de saúde lança jogos educativos

Sim, esta coisa no canto inferior esquerdo é o que você está pensando sim
Já fugindo de minha proposta inicial... Este foi um dos primeiros jogos que analisei, estava só começando nesta área, antes de decidir focar nos jogos de entretenimento: http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2014/resumos/R43-1273-1.pdf

Este é o Capitão Camisinha,
um dos heróis do Sex Squad
Ver um jogo como Adventures in Sex City me lembra o ditado "De boas intenções o inferno está cheio", mas é mais sobre como é difícil comunicar, estabelecer uma relação com um público e sobre como é mais difícil ainda criar um jogo digital. Esta situação me remete ao segundo capítulo do livro "Precariedades do Excesso: informação e comunicação em saúde coletiva", que questiona os resultados de um "boom" na produção de material informativo em unidades de saúde.

Bem, a produção tem seu lado positivo. Foi um projeto que supostamente chamou integrantes do público para o diálogo. Pode até ter sido mal conduzido, mas chamou. A imagem escrachada do pênis também é legal, porque parece não querer propagar o tabu da genitália, mas faz a gente questionar porque tem pênis mas não tem vagina. Olha aí a imagem do protagonismo do homem. O conteúdo não é de todo ruim, ele inclui questões sobre a vida das pessoas. O problema é que vemos um festival de afirmação de estereótipos e até de racismo. Entre os heróis do Sex Squad, a loirinha de olhos azuis é virginal e a morena é a cachorra que já pegou DST e entrou para o esquadrão após se curar. O herói negro, coitado, é a figura mais bizarra, que só perde em bizarrice para o vilão, um lutador mexicano com dois braços de pênis, que usa para espalhar suas DSTs pela cidade. Volta Jesus!

Já cheguei a pensar que explorar esteriótipos é coisa própria do humor, mas esta produção me provou o contrário: https://www.youtube.com/watch?v=yezAn6RL9XY

Sobre a dificuldade em se fazer um jogo digital, realmente não é mole, gente. Além de ter que trabalhar a estética, a usabilidade e os contextos, como em outras mídias, ainda temos que ter uma cultura grande sobre mecânicas de jogo e a capacidade de programação para materializá-las na forma de um novo jogo. O problema é que para muitos esta competência só chega até a capacidade de se fazer um quiz, mas tentam mascarar isso criando uma maquiagem de jogo de verdade que se desmancha rapidinho. Entramos na questão da "quebra de contrato de leitura": o jogador pensa que vai jogar uma coisa e descobre que foi enganado, como podemos ver neste vídeo:

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Deus Ex: Human Revolution - tecnologias da saúde para a evolução humana


Arte conceitual do protagonista do jogo
Esse é o jogo que me convenceu que jogar AAA valia a pena. Antes eu só jogava os indie games, sabe? Ele também faz parte da minha pesquisa de mestrado, mas aqui vou somente fazer uma notinha sobre saúde, sem fazer justiça aos milhares de assuntos legais que brotam da análise do jogo.
A história é cyberpunk (para mim, o melhor exemplo de filme neste gênero é Blade Runner) e se passa no ano de 2027, quando próteses passam a ser usadas não mais para substituírem membros perdidos, mas para aprimorarem o corpo humano, a ponto de serem chamadas de augmentation (aprimoramento). A direção de arte do jogo criou o estilo estético Cyber-Renaissance, um estilo futurístico com elementos inspirados no Renascimento, porque é o período identificado como o momento em que a humanidade começa a entender o corpo como se fosse uma máquina. Só daí brota assunto da saúde que não acaba mais, pois há vários autores que identificam esta metáfora como uma forma hegemônica de pensamento que vem conformando a medicina há centenas de anos.
Banner de uma clínica Limb
O jogo também fala da forma capitalista de tratar a saúde. Aparentemente, todo o sistema de saúde é baseado nas clínicas Limb (Liberty In Mind and Body - Liberdade em Mente e Corpo) que fazem parte de um monopólio. Quando entramos em uma delas, nos deparamos com um banner digno de loja de departamentos onde está escrito "Serviço de crédito. Tenha aprimoramentos agora, pague mais tarde". Só faltava aparecer um NPC perguntando "O senhor já possui o cartão da nossa loja?".
Quem implanta coisas no corpo passa a ser dependente de um medicamento contra a rejeição natural, que é caro p'ra caramba e também é fornecido por somente uma empresa. Pois é, esta coisa de tecnologia para melhorar a vida das pessoas é a maior balela. O negócio é lançar produtos para obter muito lucro e lutar agressivamente para conseguir o monopólio do mercado.
Outra figura interessante é a da pesquisadora chefe que no início fala da pesquisa e desenvolvimento como forma de melhorar a vida das pessoas. (Spoiler adiante! Poxa, mas o jogo já é velho, né?) O nosso protagonista passa a história inteira em altos perrengues procurando ela para salvá-la e no final descobre que a danadinha está feliz da vida chefiando um laboratório no cativeiro, satisfeita com seus resultados e com seu estoque farto de cobaias humanas sequestradas sabe-se lá de onde.
A chefe de laboratório Megan Reed: 
a princesa está em outro castelo!

Pois é... No meio de tudo isso, lembremos que muitos autores afirmam que as obras de ficção científica não são previsões para o futuro, mas manifestações de questões da atualidade.
Apesar do jogo merecer centenas de páginas, vou parar por aqui!









Vale conferir o trailer, que fala muito sobre o jogo e a história de fundo: