sexta-feira, 25 de março de 2016

Privates - um jogo "de verdade" sobre DSTs


Ah gente, baixem e joguem este daqui. É muito bom! Foi feito para um canal de TV no Reino Unido que já abandonou o projeto, mas felizmente a tecnologia está para compartilharmos coisas também: http://www.baixaki.com.br/download/privates.htm

Usei este jogo para fazer análise comparativa com o do post anterior: http://saudeemgames.blogspot.com.br/2016/03/adventures-in-sex-city-uma-unidade-de.html

Diferente do anterior, este é um jogo muito bom de se jogar. Afinal, foi feito por um estúdio de desenvolvimento de jogos de entretenimento por encomenda de um canal de TV. O trailer é bem honesto, feito com cenas do próprio jogo:


Já viram, né? É a história de uma tropa de criaturinhas que invade as partes íntimas das pessoas para lutar contra uma multidão de monstrinhos que representam as DSTs. O jogo é cheio de metáforas e piadas engraçadas, mas... nada é perfeito quando se envereda na Comunicação e Saúde... Os probleminhas estão nos sentidos da saúde que este jogo reforça. Além da questionável metáfora bélica (muito comum em campanhas de saúde), nele a pessoa que tem DST é somente um objeto inerte, sem escolhas, sem protagonismo. O jogo é voltado para um público de mais de 14 anos e as mensagens são direcionadas a pessoas que nunca tiveram uma DST, pois se baseiam em "Esta doença existe e você vai se arrepender se pegar. Sinta medo dela!". Se eu fosse portadora de uma dessas doenças ia me sentir humilhada quando o jogo falasse dela.
Mas, apesar de tudo, este jogo vale a pena. Apesar de ser bem grandinha, me diverti horrores jogando e ainda aprendi algumas coisas. Sério, a gente pensa que sabe de tudo mas tem sempre alguma coisa para aprender.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Adventures in Sex City - uma unidade de saúde lança jogos educativos

Sim, esta coisa no canto inferior esquerdo é o que você está pensando sim
Já fugindo de minha proposta inicial... Este foi um dos primeiros jogos que analisei, estava só começando nesta área, antes de decidir focar nos jogos de entretenimento: http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2014/resumos/R43-1273-1.pdf

Este é o Capitão Camisinha,
um dos heróis do Sex Squad
Ver um jogo como Adventures in Sex City me lembra o ditado "De boas intenções o inferno está cheio", mas é mais sobre como é difícil comunicar, estabelecer uma relação com um público e sobre como é mais difícil ainda criar um jogo digital. Esta situação me remete ao segundo capítulo do livro "Precariedades do Excesso: informação e comunicação em saúde coletiva", que questiona os resultados de um "boom" na produção de material informativo em unidades de saúde.

Bem, a produção tem seu lado positivo. Foi um projeto que supostamente chamou integrantes do público para o diálogo. Pode até ter sido mal conduzido, mas chamou. A imagem escrachada do pênis também é legal, porque parece não querer propagar o tabu da genitália, mas faz a gente questionar porque tem pênis mas não tem vagina. Olha aí a imagem do protagonismo do homem. O conteúdo não é de todo ruim, ele inclui questões sobre a vida das pessoas. O problema é que vemos um festival de afirmação de estereótipos e até de racismo. Entre os heróis do Sex Squad, a loirinha de olhos azuis é virginal e a morena é a cachorra que já pegou DST e entrou para o esquadrão após se curar. O herói negro, coitado, é a figura mais bizarra, que só perde em bizarrice para o vilão, um lutador mexicano com dois braços de pênis, que usa para espalhar suas DSTs pela cidade. Volta Jesus!

Já cheguei a pensar que explorar esteriótipos é coisa própria do humor, mas esta produção me provou o contrário: https://www.youtube.com/watch?v=yezAn6RL9XY

Sobre a dificuldade em se fazer um jogo digital, realmente não é mole, gente. Além de ter que trabalhar a estética, a usabilidade e os contextos, como em outras mídias, ainda temos que ter uma cultura grande sobre mecânicas de jogo e a capacidade de programação para materializá-las na forma de um novo jogo. O problema é que para muitos esta competência só chega até a capacidade de se fazer um quiz, mas tentam mascarar isso criando uma maquiagem de jogo de verdade que se desmancha rapidinho. Entramos na questão da "quebra de contrato de leitura": o jogador pensa que vai jogar uma coisa e descobre que foi enganado, como podemos ver neste vídeo: