quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

BioShock - Objetivismo e saúde


BioShock é um dos jogos selecionados para análise na minha dissertação de mestrado, mas acho que já posso fazer aqui um spoiler despretensioso e em uma escrita não científica.
A história se passa em 1960 em uma cidade submarina que não tem governante, mas tem dono, o tal do Andy Ryan, nome criado para fazer alusão à capeta filósofa Ayn Randodiada conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo, que a primeira vista pode até parecer bonitinho para algum desavisado, mas na verdade prega o sistema do cada-um-por-si.
Você chega na cidade e está tudo aquela zorra, está havendo uma guerra civil, mas vamos à saúde.
Pelos ideais do poderosão Andy Ryan todo mundo que não dá lucro para ele é chamado de parasita. O discurso dele é "O homem talentoso cria coisas incríveis e vai lá o parasita e diz que tem direito à sua parte. O fazendeiro trabalhador produz comida com seu suor e vai lá o parasita e quer comer também. O parasita fica doente e quer que o médico vá lá curar ele de graça." Até saúde pública o cara acha indecente porque ajuda o tal do parasita, que tem mais é que morrer.

Lembrei até do Justo Veríssimo do Chico Anysio (gente, eu não sou tão velha não, tá?)
Com essa filosofia, o poderosão também acha que a pesquisa e desenvolvimento podem correr soltos, usando criancinha órfã e recrutando "voluntários". Liberdade lá é só para quem está podendo, parasita tem mais é que morrer. Dá para notar que a história de fundo é sobre como o Objetivismo não pode dar certo.
Dessa P&D "super legal" surgem substâncias que tem efeitos realmente mágicos e são amplamente comercializadas naquela cidade. Só esqueceram de falar nos efeitos colaterais que são deformidades, loucura e morte. Coisinhas insignificantes comparadas ao lucro daquele comércio. Lá vai crítica ao complexo produtivo e de inovação em saúde.
Pois é... Aí entra mais um tema importante na saúde. Conforme vamos avançando pela cidade, somos atacados por um pessoal mucho loco que chega gritando. São os tais dos splicers, pessoas que eram cidadãos normais como enfermeiras, médicos, donas de casa, músicos, etc, mas que agora, depois de usarem muito das tais substâncias, são soldados muito loucos controlados à distância pela elite polarizada da cidade com o uso de feromônios. Com eles não tem conversa, a gente vai matando todo mundo. 

Um splicer vestido de cirurgião atacando o avatar.
Aí percebi uma coisa interessante, fora do jogo, os jogadores por aí chamam os splicers de zumbis. Mas os splicers não estão mortos, eles estão vivos. Eles também não comem cérebros. A condição deles também não é contagiosa. Ninguém vira splicer se for mordido por um. Aaaahhhh, aí eu me lembro de um outro pessoal que na nossa realidade material também é chamado de zumbi: os usuários de crack! Comparados a zumbis, eles perdem simbolicamente a humanidade, viram objetos, coisas sobre as quais as "autoridades" podem fazer o que quiserem sem perguntar. Afinal, zumbi não tem opinião, não é?
Me remeteu à discussão do documentário "Crack, repensar" (2015), que recebeu o prêmio de Melhor Curta Metragem pelo Júri Popular do REcine 2015. No final do trailer tem até cena de jogo de zumbi:



Essa associação automática com zumbi da pessoa com problemas de saúde mental me parece bastante perigosa, viu? Arranca a humanidade e subtrai os direitos de cidadão em um piscar de olhos.

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